Congresso pressiona Bolsonaro contra Mendonça no STF
Segundo parlamentares, o AGU pode se tornar ‘um novo Fachin’ caso seja nomeado
A cúpula do Congresso deu um recado a Jair Bolsonaro: ele não vai escolher o próximo ministro do STF sozinho. A informação é do UOL.
Bolsonaro quer indicar para a vaga do decano Marco Aurélio de Mello, que se aposenta no dia 5 de julho, o atual advogado-geral da União e pastor terrivelmente evangélico, André Mendonça, visto como “não confiável” por políticos – em especial, líderes do Centrão, investigados na Lava Jato e potenciais candidatos a esquentar bancos de réus.
Caso insista na indicação de Mendonça, dizia o recado enviado a Bolsonaro, ele correrá o risco de não ver nem mesmo o nome do pastor colocado em votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Cabe ao presidente da CCJ no Senado, hoje Davi Alcolumbre, receber do Presidente da República as indicações ao STF e lhes dar seguimento.
André Mendonça é um fiel aliado de Bolsonaro e por esse motivo foi deslocado do Ministério da Justiça para a AGU, onde tem atuado como defensor dos interesses do presidente e também de seus aliados – coube à AGU, por exemplo, apresentar ao STF o pedido de habeas corpus para que o ex-ministro Pazuello tivesse o direito de ficar calado na CPI da Covid. Mesmo assim, aliados do governo enxergam em Mendonça um ‘corpo estranho” entre os políticos.
A sensibilidade da categoria a certos códigos não escritos estimula essa impressão.
Um ministro de governo, com trânsito no Congresso, reclama, por exemplo, que Me3donça não atende as chamadas de celular nem mesmo de seus ex-colegas. Costuma deixar seu telefone aos cuidados de uma assessor que recebe os recados e lhe transmite. Se a demanda é por um “papo rápido”, a resposta de Mendonça nunca é o tradicional “passa aqui”, uma praxe entre políticos do mesmo time e mesmo naipe. Nesse caso, o assessor primeiro consulta o chefe e depois retorna ao interlocutor com uma proposta de “reunião” para tal hora, sempre registrada em agenda.
Na etiqueta do poder, a postura de Mendonça é um sinal claro de que ele não é do tipo disposto a “quebrar galhos”.
“Imagina isso togado e com cargo vitalício”, comenta o ministro com trânsito entre parlamentares. “Vai ser um novo Fachin”.
O ministro Edson Fachin é temido por políticos e visto como o mais ferrenho defensor da Lava Jato no STF.
Como Presidente da República, cabe a Bolsonaro e a mais ninguém escolher se quer ou não colocar “um novo Fachin” para integrar a mais alta Corte do país pelas próximas décadas.
Mas uma ameaça como a da CCJ nem mesmo coloca o nome de Mendonça em votação. Caso o presidente insista nele só soa descabida para um chefe do Executivo forte, com popularidade em alta e uma relação estável com o Legislativo.
Como até Bolsonaro sabe, não é o seu caso.
AGU André Mendonça (Foto: Daniel Estevão/AscomAGU)